Afinal de contas, o que vêm a ser os "contatos com as bases", expressão que nossos políticos tanto usam para justificar suas ausências ao trabalho às segundas e às sextas-feiras, bem como para explicar o porquê do uso de tantas passagens de avião e de correspondências gratuitas a que eles têm direito?
Os legisladores (vereadores, deputados estaduais, federais e senadores), não exercem uma atividade comum. Não se trata de um simples emprego que pode ser equiparado a qualquer outro da iniciativa privada. Na realidade, tais parlamentares são nossos representantes junto ao Governo. É por isso que se diz que eles recebem um "mandato", que, em sua gênese, traz a ideia de "procuração", tal como aquela que você outorga a um advogado ou a um amigo para representá-lo em determinados atos privados de seu interesse.
Para facilitar a compreensão do tema, basta que você tenha em mente que, quando você outorga um mandato a um advogado ou a um amigo, você assim procede para que tais pessoas recebam instruções suas em assuntos que precisa resolver, mas não tem tempo ou conhecimento técnico suficiente para fazê-lo pessoalmente. Com um parlamentar a ideia é a mesma. Você dá seu voto a ele e, uma vez eleito, ele deve manter contato com você para entender quais são os interesses (públicos e não de natureza particular) que você anseia. É lógico que esse contato não precisa ser feito um a um, eleitor a eleitor, mas o chamado "contato com as bases", nada mais é do que o contato que a classe política precisa manter com seus eleitores para buscar ideias e posicionamentos sobre a atuação que ele deve ter junto ao Governo.
A explicação inicial do tema (para alguns leitores seria apenas a reativação do tema em sua memória) só foi mencionada para que percebamos o quão distante da realidade está o tão aclamado "contato com as bases" por parte de nossa classe política.
Diga com sinceridade: quantas vezes você já recebeu em sua casa uma correspondência de um parlamentar que pedisse para que você opinasse sobre algum tema político ou social? Dificilmente alguém se lembrará de algo a respeito. Com certeza as correspondências que você recebeu só serviram para fazer propaganda do partido do candidato ou algo parecido.
E quanto a reuniões promovidas em sua cidade para discussão de temas de nosso interesse, para saber sua opinião? Você se lembra de alguma fora da época em que se aproximam as eleições?
É necessário que nós demos integral apoio aos parlamentares para que eles tenham o tão falado "contato com as bases". Mas essa atividade tem que se fazer presente no cotidiano deles. Temos que sentir que somos consultados sobre assuntos de nosso interesse.
A prova maior de que não temos sido ouvidos em nossas aspirações diz respeito ao aspecto da segurança pública.
Em data recente, o vice-presidente da República, Michel Temer, sofreu tentativa de assalto quando estava em São Paulo, no interior de seu automóvel. O que aconteceu na oportunidade? Seus seguranças, que estavam em outro carro de apoio, dominaram o assaltante e o prenderam. Mas quantos de nós pode contar com o mesmo aparato de segurança? Praticamente ninguém.
O episódio simplesmente demonstra o quanto nossos políticos estão afastados de suas bases, pois se eles tivessem contato conosco veriam que não aguentamos mais a violência e criminalidade que estão em nossas ruas, e ouviriam de nós que queremos um endurecimento da lei penal, para que as pessoas que pratiquem infrações fiquem presas e não andando livremente pelas ruas.
Reflita a respeito.